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85.YU

Todas as noites acordo em Oniria. Levas-me para lá com um mero sussurrar, e é lá que bebo o cálice de veneno que me estendes, de braços abertos. E, noite após noite, deixas-me a tropeçar, cambaleante, pela terra estranha das alucinações vagas e das vozes inconstantes.


Procuro florestas que não entendo e que não encontro. E procuro-me a mim próprio, mas sei que não estou lá. Sabor febril de repetição. Cores que se sucedem aos fragmentos que se invadem mutuamente, e de repente tudo explode. E estagna. Redefino-me e tento movimentar-me, mas deparo com os teus dois espelhos, as tuas duas caras com os mesmos olhos. Ágeis, melosos, perigosos, hipnotizam-me. Esboço as palavras que te leio nos lábios, e que não sei articular. Céu roxo, terra queimada. Saio, obedeço à minha própria inconsequência. Procuro respirar. Mas o ar é pesado, e a chuva que não cai é preta. É óbvio, tão óbvio. Fugir da própria fuga é circular. Assim, continuo em frente até me ver enredado na rede dos pedaços que os espelhos deixaram para trás.

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Quando finalmente desperto para a almofada aos pés da cama, e para os lençóis desarranjados, não estou suado. Mas a minha alma está. Sempre.