quarta-feira, maio 31, 2006

"The stab of stiletto on a silent night..."

- Porque te aproximas?
- Porque não te conheço.
- E porque te afastas?
- Porque já não faço ideia de quem sejas..

terça-feira, maio 30, 2006

If I was a cartoon...

Daqui :)

quinta-feira, maio 25, 2006

Palavras

Detesto palavras.
Enganam. Trapaceiam. Não se pode confiar nelas. São espelhos distorcidos nos quais qualquer incauto se pode ver reflectido. Roupagens ilusórias à espera de quem as vista. É pelas palavras que o rei vai nu.

Não acredito nem posso acreditar nas palavras. Mantenho-me e manter-me-ei cego e surdo a elas, por opção.

Os actos sim, fazem sentido. Devem ser procurados e concretizados. As palavras são meras tentativas de os igualar. Insuficientes. E tão convincentes como o nevoeiro opaco que se tenta fazer passar por chuva sincera.

4 AM

- Se eu morrer antes de acordar, promete que me sussurras ao ouvido.
- Prometo que te sussurro coisas bonitas.
- Repara nos fogos-fátuos! Estão a dançar dentro de ti.
- Trazem-me ilusões. E depois desiludem-me.
- As coisas novas não te podem desiludir.
- Desiludem-me mais do que quaisquer outras. Porque as prevejo e depois faço-as acontecer.
- Gostava de poder retratar as minhas desilusões com todas as cores do meu nome.
- Poderias.
- E fá-lo-ia.
- Gostava de sair da terra e sonhar sonhos agradáveis.
- Quero deixar de saborear o vazio que eu própria conspiro.
- E eu quero prender-me nos teus braços.
- Numa noite de Inverno, com o vento a pedir às janelas para entrar.
- Ou numa noite de Primavera, quando só resta o aroma da vida a renascer.
- E quando a chuva e o sol caminharam lado a lado o dia inteiro, como miúdos à procura do próximo esconderijo perfeito.
- Ou ainda numa noite de Verão, quando a Lua aspira a ser tão grande e brilhante como o Sol.
- E numa noite de Outono como esta?
- Reencontramo-nos.
- Metamorfoseamo-nos.
- Abraçamo-nos. Como só fogo e gelo o podem fazer.
- Recriamos o mundo à nossa imagem.
- Concretizamos a perdição de tudo o que é divino e de tudo o que é mundano.
- E depois saímos para fora do mundo.
- Para fora dos anelos que criámos.
- Para fora das nossas próprias almas.
- E arriscamo-nos a sentirmo-nos um pouco mais vivos.

segunda-feira, maio 22, 2006

Liberdade de movimentos.

Pela enésima vez, ele entrou no quarto. Passara bastante tempo desde a última vez. Tinha-se mantido afastado, concentrado em todas aquelas coisas de interesse nulo, que são dotadas da virtude de ajudar a passar o tempo.
Mas a escuridão daquele quarto tinha-o acompanhado a cada passo, e isso era algo que ele não esquecia. E que não queria, nem aceitava. Estava farto do escuro.
O quarto ainda estava impecavelmente mobilado à superfície, tal como tinha lamentavelmente ficado.
E ela ainda estava sentada no mesmo sítio. Relaxada, encantadora, envolta em sombras. Ela falou, mas o movimento dos seus olhos era imperceptível. Isso não pode ser verdade, disse ele. Bem vindo a mim, disse ela.
Não vejo os teus olhos, estão imersos nas sombras, respondeu ele. Como distinguir o que é real do que não é?
A reacção dela foi, uma vez mais, ocultada pelas sombras.

Tens uma chance, afirmou ele. Apenas uma. E, expectante, dirigiu-se para a porta do quarto.

sexta-feira, maio 19, 2006

Surrealismos

Existem alturas em que se pode afirmar, com uma certa margem de certeza, que o mundo está a ficar definitivamente doido. Uma dessas alturas é quando se ouve uma acérrima militante da esquerda caviar afirmar, peremptória, que entre americanos e alemães, mais valia que tivessem sido os alemães a ganhar a II Guerra Mundial. Uma "plateia" de três jovens, que também se afirmam de esquerda, aprova estas palavras com favoráveis acenos de cabeça. Após o momento inicial da incredulidade atónita e do inevitável beliscão no braço (não vá tudo aquilo ser um estranho sonho), tenta-se questionar tal afirmação: e o totalitarismo? e, obviamente, o genocídio premeditado de milhões? Mas devia-se saber melhor, porque tentar debater de modo honesto com idiotas nunca deu qualquer resultado. Com efeito, "os americanos também são totalitários, e para que é que os judeus servem? Para matar palestinianos e mandar no mundo????". Uma vez mais, aprovação dos outros jovens; alguém diz inclusivé que os judeus fazem o papel de coitadinhos mas não prestam mesmo porque são opressores e mandam nos EUA, a.k.a. "o império da guerra".... Outro diz que o 11 de Setembro foi um modo legítimo de protesto contra o assassino Tio Sam. O debate acaba por ir parar aos impérios comunistas, e nesse contexto surge a informação adicional, dita de olhos esbugalhados, de que Estaline e Mao só massacraram os seus próprios povos porque foram manipulados para tal a partir de Washington. No comments. Aliás, alguns comments; isto porque ao longo de todo este périplo, o vosso narrador é suficientemente pateta para tentar rebater tal avalanche de verdades incontestáveis e, não tarda, está a ser denominado de anti-democrático, extremista e claro, intolerante, por, entre outras coisas, ser a favor dos americanos e pelos vistos não saber aceitar as ideias das pessoas..................................
Enfim, a conversa fica por ali, porque, apesar de tudo, o vosso narrador tem o eventual defeito de ter uma paciência limitada. Com um encolher de ombros, ainda se pergunta se entrou num manicómio e não deu por isso. Mas não, é apenas uma mesa de bar numa faculdade portuguesa.

quarta-feira, maio 17, 2006

85.YU

Todas as noites acordo em Oniria. Levas-me para lá com um mero sussurrar, e é lá que bebo o cálice de veneno que me estendes, de braços abertos. E, noite após noite, deixas-me a tropeçar, cambaleante, pela terra estranha das alucinações vagas e das vozes inconstantes.


Procuro florestas que não entendo e que não encontro. E procuro-me a mim próprio, mas sei que não estou lá. Sabor febril de repetição. Cores que se sucedem aos fragmentos que se invadem mutuamente, e de repente tudo explode. E estagna. Redefino-me e tento movimentar-me, mas deparo com os teus dois espelhos, as tuas duas caras com os mesmos olhos. Ágeis, melosos, perigosos, hipnotizam-me. Esboço as palavras que te leio nos lábios, e que não sei articular. Céu roxo, terra queimada. Saio, obedeço à minha própria inconsequência. Procuro respirar. Mas o ar é pesado, e a chuva que não cai é preta. É óbvio, tão óbvio. Fugir da própria fuga é circular. Assim, continuo em frente até me ver enredado na rede dos pedaços que os espelhos deixaram para trás.

--------------------------------------------------------------------------------

Quando finalmente desperto para a almofada aos pés da cama, e para os lençóis desarranjados, não estou suado. Mas a minha alma está. Sempre.

domingo, maio 14, 2006

The Ship of Fools

Um Nadador quer fugir da principal força centrífuga do universo: o Tédio.
Os seus companheiros de viagem acham a ideia estranha, para não dizer incómoda, mas acabam por alinhar: afinal de contas, estão entediados.
Assim, o Bêbado Adormecido, a Freira, o Monge; a Mulher Bêbada e o Bêbado Penitente; o Bobo, o Glutão e o Coro; todos entram no jogo de contar uma história cada, para passar o tempo.

E, naturalmente, há também um Mudo, que é o último a falar.

----------------------------

"For some time after the story, the audience sits unspeaking. The Fool listens to the brains as they cog and clunk. They are forgetting. In seconds they have lost the names of the main characters; then the plot fizzles; followed, at last, by all vestige of engagement. It is the Monk who fills the unravelling sillence.
Monk: An irreverent story, Fool.
Fool: Thank you.
Monk: God spare us your frippery. It has no bearing on our lives and teaches us nothing.
(The Fool is silent. The face on the end of his stick does the smiling for him.)"

Gregory Norminton (2002), The Ship of Fools

sábado, maio 13, 2006

Move-te para aquele lado desta maneira

«Não.»

quinta-feira, maio 11, 2006

Laranjas com açúcar


(Outdoor da JSD, na cidade universitária de Lisboa)


Assim de repente, surge-me uma dúvida existencial. Qual a mensagem deste cartaz? Ok, o design é mais ou menos aceitável, a foto é ternurenta, as frases são relativamente catchy, dentro do que slogans políticos ainda conseguem sê-lo… mas qual a mensagem?
Qual a ‘verdadeira política de natalidade’ proposta para o país, e porque é que esta é ‘por ti e por todos nós’? Sei lá…a JSD quererá patrocinar o sexo com fins de reprodução entre jovens casais? Estará talvez a planear uma orgia de protesto contra o projectado encerramento de maternidades? Estará simplesmente a tentar promover a estética ‘horário nobre TVI’, e o melhor que conseguiu arranjar foi este cartaz?
Ou será que a JSD, não tendo realmente nada de concreto para dizer, se limitou a encontrar um modo colorido e apelativo à vista de o dizer? Yap, muito provável.

Não há que dar demasiada relevância ao assunto. Este cartaz não é propriamente pioneiro no que diz respeito à total ausência de informação relevante, assim como a JSD não é uma inovadora nesse campo. Limitam-se a ser as gotas de água no vasto oceano da política do flash e do holofote, que hoje em dia atrai pequenos e grandes, de extrema a extrema. O que no entanto não faz com que este cartaz deixe de ser um atentado à inteligência de todos aqueles que acham que divulgar ideias políticas (?) não devia ser a mesma coisa que vender uma caixa de Ferrero Rocher num hipermercado.

domingo, maio 07, 2006

Uma letra fantástica numa música fantástica

Everybody's Free
(to wear sunscreen)

Baz Luhrmann


Ladies and Gentlemen of the class of ’97... wear sunscreen.

If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be IT.

The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience.

I will dispense this advice now.

Enjoy the power and beauty of your youth. Never mind. You will not understand the power and beauty of your youth until they have faded. But trust me, in 20 years you’ll look back at photos of yourself and recall in a way you can’t grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked.

You are NOT as fat as you imagine.

Don’t worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.

Do one thing every day that scares you.

Sing.

Don’t be reckless with other people’s hearts, don’t put up with people who are reckless with yours.

Floss.

Don’t waste your time on jealousy; sometimes you’re ahead, sometimes you’re behind. The race is long, and in the end, it’s only with yourself.

Remember compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how.

Keep your old love letters, throw away your old bank statements.

Stretch.

Don’t feel guilty if you don’t know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn’t know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don’t.

Get plenty of calcium.

Be kind to your knees, you’ll miss them when they’re gone.

Maybe you’ll marry, maybe you won’t, maybe you’ll have children, maybe you won’t, maybe you’ll divorce at 40, maybe you’ll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary. Whatever you do, don’t congratulate yourself too much or berate yourself, either. Your choices are half chance, so are everybody else’s. Enjoy your body, use it every way you can. Don’t be afraid of it, or what other people think of it, it’s the greatest instrument you’ll ever own.

Dance. Even if you have nowhere to do it but in your own living room.

Read the directions, even if you don’t follow them.

Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly.

Get to know your parents, you never know when they’ll be gone for good.

Be nice to your siblings; they are your best link to your past and the people most likely to stick with you in the future.

Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography in lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.

Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live in Northern California once, but leave before it makes you soft.

Travel.

Accept certain inalienable truths, prices will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you’ll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.

Respect your elders.

Don’t expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you'll have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out.

Don’t mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will look 85.

Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it’s worth.

But trust me on the sunscreen.

Absurdo

Absurdo.
Quando, uma ou duas horas depois de se jurar a pés juntos (com sinceridade - senão não seria uma jura...) que não se sente realmente algo, finalmente se percebe que, afinal, sempre se sentiu. Senão, como poderia ser tão....tão..........................................vazio.

Estúpido. Querias o calor do Sol e esperavas não querer o próprio Sol. Estúpido.

sábado, maio 06, 2006

Madrugada


Não interessa quem é. Interessa o que vê. A persistente decomposição de um mundo desgastado…ou o início de um mundo novo? Será possível que já veja um mundo novo, estando o velho ainda imerso em convulsões?

Provocou-as. As convulsões. Procurou-as activamente. Baralhar e voltar a dar; haverá maior desígnio a perseguir quando se perde o significado? Mas o que procura, agora? O respeito de Bellona, ou o abraço de Vénus? Será possível que, acima de tudo, procure algo em si próprio?

Tranquilidade esmagadora, coração em chamas. A tempestade ameaça à distância, e como sempre, ele enfrentá-la-á sem hesitar.

Mas agora, há algo mais em que pensar. O próximo passo está já à frente, e a estrada estende-se, nua e estéril. É hora de desafiar o destino. Com firmeza. E sem receio.

Porque os dados estão lançados.

Adeus ?

Neste mundo, existem duas maneiras de mandar um tipo dar uma volta: com elegância ou sem ela.
Hoje fui mandado dar uma volta maior que as do costume, e com bastante elegância. Ainda não sei se é bom ou mau. Mas ao menos foi directo.

Há que saber aceitar quando se está a mais. Nem todas as cartas podem estar em jogo ao mesmo tempo.