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Portugal - Holanda, 16 amarelos e 4 vermelhos depois.

Não alinho no discurso oficial. Não considero que Portugal tenha sido prejudicado no jogo, nem que o árbitro tenha sido a mãe de todos os males. Isso são as desculpas de mau pagador tão típicas cá no burgo. O que vi acontecer em campo foi uma selecção holandesa com laivos calculados de violência gratuita, e uma selecção portuguesa estupidamente disposta a responder a essa violência gratuita com ainda mais violência gratuita. Logo ao início do jogo pareceu-me que a estratégia holandesa passava por estimular aquela latino thing do ‘eu não me fico, eu vou-me a ele’, através de uma ou duas entradas mais ríspidas a meio campo e uma ou outra provocação suplementar. E com isso provocar nervosismo, desconcentração e indisciplina entre os portugueses. É um dos mais velhos e vulgares truques da cartilha do futebol. E, estando as minhas impressões certas ou não, o facto é que os portugueses reagiram precisamente com essa postura. Não fosse até uma certa bonomia do senhor Ivanov, Costinha teria sido expulso uns 10 minutos antes do que realmente foi, Nuno Valente teria sido recambiado com um vermelho directo ainda antes do final da primeira parte, e o mesmo teria acontecido a Figo pela ‘agressão’ a Van Bommel, com o jogo parado (porque mesmo as agressões ‘simbólicas’ são punidas com vermelho directo). Não pretendo dizer que os portugueses foram os únicos a serem poupados pelo árbitro; a Holanda também lhe pode agradecer ter deixado Boulahrouz em campo até à segunda parte e nunca ter mostrado o segundo amarelo a Cocu.

O jogo acabaria por redundar numa batalha campal que nenhum dos lados viria a controlar. Terá sido por culpa do árbitro? Que por várias vezes procurou meter água na fervura e que, quando puniu, fê-lo sempre de acordo com as regras? Se o árbitro pecou aqui, foi por defeito; com um árbitro duro este jogo poderia bem ter acabado com 7 ou 8 jogadores de cada lado. Não. A culpa foi exclusivamente de quem, de modo objectivo, provocou e manteve as situações: jogadores e equipas técnicas. Os holandeses foram maus profissionais porque foram para campo a tentar acirrar ânimos para usarem isso em proveito próprio; e porque foram tremendamente violentos nisso. E os portugueses ainda não se mentalizaram que um profissional de futebol está ali para jogar futebol, e não para responder irresponsavelmente a provocações; que, se o fizer, arrisca-se a prejudicar a equipa, como de facto veio a acontecer. Ficámos sem dois titulares para um jogo tão difícil como vai ser o jogo contra a Inglaterra; e ganhámos uma série de amarelos a mais, o que complica as contas para evitar suspensões de jogadores numa fase tão sensível do campeonato como esta.

Violência à parte, algumas notas. Grandes exibições de Carvalho, Maniche, Petit e Ricardo. E realço também a maturidade táctica da equipa (maior na minha opinião, que no Euro’04), com boa ocupação de espaços, atenção férrea a meio campo, que é onde se ganham e perdem os jogos, e um estilo de jogo fluido e calculista. Portugal já não tem vergonha de defender e jogar de modo matreiro e está a aprender a fazê-lo bem. Não acredito que ganhemos este Mundial (suspeito que a taça fica mesmo com Brasil ou Itália, se bem que a Alemanha também é uma séria concorrente), mas com este tipo de evolução, mantendo-se o seleccionador e a estrutura-base da equipa, podemos bem almejar uma vitória sem surpresas no próximo Europeu.

Fico realmente com alguma pena de não ter visto o jogo...nem que seja por motivos sádicos... Ainda assim, deixo-te aqui este comentário não tanto para discutir futebol (do qual já sabes que não sou grande adepta), mas essencialmente para te felicitar pelo regresso após um curto período de clausura bloguiana. Já tinha saudades dos teus devaneios...

Já agora...também darias um bom comentador desportivo...

Beijos grandes,
S.

LOL! Lamento, mas para se ser comentador desportivo em Portugal é preciso cumprir um de dois requisitos: combinar alcoolismo crónico com o consumo regular de opiáceos; ou ser leccionador único de uma cátedra de Metafísica Hegeliana do Futebol Pós-Estrutural (é o caso de Gabriel Alves, que a minha insipiência intelectual nunca poderia esperar igualar; eu nunca conseguiria chegar sozinho ao «tridente dinâmico que girando faz também girar os ângulos móveis da equipa»!). Obrigado pelo comentário, e garanto que se seguem mais devaneios ;)

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