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Liberdade de movimentos.

Pela enésima vez, ele entrou no quarto. Passara bastante tempo desde a última vez. Tinha-se mantido afastado, concentrado em todas aquelas coisas de interesse nulo, que são dotadas da virtude de ajudar a passar o tempo.
Mas a escuridão daquele quarto tinha-o acompanhado a cada passo, e isso era algo que ele não esquecia. E que não queria, nem aceitava. Estava farto do escuro.
O quarto ainda estava impecavelmente mobilado à superfície, tal como tinha lamentavelmente ficado.
E ela ainda estava sentada no mesmo sítio. Relaxada, encantadora, envolta em sombras. Ela falou, mas o movimento dos seus olhos era imperceptível. Isso não pode ser verdade, disse ele. Bem vindo a mim, disse ela.
Não vejo os teus olhos, estão imersos nas sombras, respondeu ele. Como distinguir o que é real do que não é?
A reacção dela foi, uma vez mais, ocultada pelas sombras.

Tens uma chance, afirmou ele. Apenas uma. E, expectante, dirigiu-se para a porta do quarto.