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Pequena reflexão...

"Ask not what your country can do for you, but what you can do for your country"
John Kennedy


Portugal é o país da desgraça. Tudo corre mal, é tudo um horror. Este é o país do fado, e a panaceia nacional é o queixume, para o qual tudo serve de pretexto, desde a chuva até aos políticos; passando pela bola e pelos funcionários públicos.

De modo geral, nós portugueses aprendemos a lidar com as contrariedades através da cedência à depressão colectiva. Que, por sua vez, leva geralmente à inacção...é normal pensar-se que, «já que está tanta coisa mal, para quê sequer tentar mudar?, aliás, consegue-se mudar o que quer que seja?»
Também não é por acaso que Portugal é um país tremendamente saudosista, refugiando-se nos êxitos do passado para tornar mais tolerável o presente; e, na face inversa - muito mais perigosa que a anterior - utilizando os erros do passado para desculpabilizar as falhas do presente.

Estamos, no geral, a caminhar cada vez mais para a passividade e para o conformismo...e isso sim, é cada vez mais o verdadeiro problema do nosso país.

Não basta saber que as coisas estão mal. Se as coisas estão mal é preciso mudá-las. E para isso é necessária a força de vontade e o empenho de cada um. Não podemos continuar a queixar-nos constantemente dos problemas, e depois, a deixar-mo-nos ir abaixo pela primeira contrariedade que aparece.

É verdade que os problemas são muitos: há corrupção, incompetência, burocracia, salários insultuosos, decisões políticas catastróficas,... Mas é a nós, aqui e agora, que cabe resolver esses problemas. Temos esse poder, enquanto seres racionais e conscientes, e temos essa obrigação, enquanto cidadãos que reclamam por algo melhor. Podemos educar, intervir, trabalhar. Combater os problemas pela acção, pela dedicação; derrotar a ignorância por via do esclarecimento; rejeitar a corrupção pela honestidade. Acima de tudo, não ficar de braços cruzados à espera que os outros façam o nosso trabalho por nós.
Estou a lembrar-me de uma aula recente, em que uma colega minha dizia ao professor, e com toda a razão, que a maior parte dos países não se interessa pelos direitos humanos. A resposta desse professor foi espectacular: «se eles não se interessam, então interesse-se você. Se está à espera que o mundo mude sozinho, então pode esperar sentada!»

Porque não começarmos pela vida quotidiana? É possível intervir junto dos nossos conhecimentos, ajudar quem precisa, tentar corrigir as injustiças e as disfuncionalidades com as quais nos cruzamos no dia-a-dia. Não basta dizer que os sem-abrigo são uns pobrezinhos, pode-se fazer voluntariado.
E as leis, estão erradas? Porque não estudar hoje, para amanhã as podermos alterar?
E de que serve apenas dizer que as pessoas na rua são mal-criadas e apáticas? De certeza que a constatação do facto não fará com que elas deixem de o ser. Podemos, em vez disso, começar nós próprios por lhes mostrarmos um sorriso.
A junta de freguesia, a autarquia, o governo, funcionam mal? Porque não tentar, então, intervir junto destas instituições, para que possamos tentar fazer algo de construtivo? E, mesmo que nada disto funcione, não nos teremos melhorado a nós mesmos no processo, assim como àqueles à nossa volta?

Sejamos sinceros: o mundo nunca vai deixar de ser injusto. É inerente à condição humana. Mas é possível tentar torná-lo menos injusto, a cada dia que passa. Para isso é preciso sentido de responsabilidade, e muita perseverança. Roma e Pavia não se fizeram num dia...