4 AM
- Se eu morrer antes de acordar, promete que me sussurras ao ouvido.
- Prometo que te sussurro coisas bonitas.
- Repara nos fogos-fátuos! Estão a dançar dentro de ti.
- Trazem-me ilusões. E depois desiludem-me.
- As coisas novas não te podem desiludir.
- Desiludem-me mais do que quaisquer outras. Porque as prevejo e depois faço-as acontecer.
- Gostava de poder retratar as minhas desilusões com todas as cores do meu nome.
- Poderias.
- E fá-lo-ia.
- Gostava de sair da terra e sonhar sonhos agradáveis.
- Quero deixar de saborear o vazio que eu própria conspiro.
- E eu quero prender-me nos teus braços.
- Numa noite de Inverno, com o vento a pedir às janelas para entrar.
- Ou numa noite de Primavera, quando só resta o aroma da vida a renascer.
- E quando a chuva e o sol caminharam lado a lado o dia inteiro, como miúdos à procura do próximo esconderijo perfeito.
- Ou ainda numa noite de Verão, quando a Lua aspira a ser tão grande e brilhante como o Sol.
- E numa noite de Outono como esta?
- Reencontramo-nos.
- Metamorfoseamo-nos.
- Abraçamo-nos. Como só fogo e gelo o podem fazer.
- Recriamos o mundo à nossa imagem.
- Concretizamos a perdição de tudo o que é divino e de tudo o que é mundano.
- E depois saímos para fora do mundo.
- Para fora dos anelos que criámos.
- Para fora das nossas próprias almas.
- E arriscamo-nos a sentirmo-nos um pouco mais vivos.