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Azzurri

O central capta a bola. Passa ao lateral. O lateral despacha-a para o guarda-redes. Que após dois ou três segundos com ela nos pés, passa ao central. Central para central. E de volta... Médio… Lateral… Central. Outro lateral… Trinco... Guarda-redes... Central... O estádio está a adormecer, os adeptos adversários impacientam-se, assobiam, porque aqueles gajos nem sabem jogar à bola nem deixam jogar e vá-se lá saber que mais. No campo, entretanto, um avançado adversário captou finalmente a bola e tenta enquadrar-se com a baliza. Frustrado – foi de imediato rodeado por três adversários e perde a bola. Recomeça o bailado. Lateral. Central… para central. Trinco… Lateral. Nº 10. Central... Lateral… Guarda-redes… Central. A equipa forma uma teia quase intransponível no seu meio-campo e calmamente circula a bola pela teia. Os adversários entram numa nova fase de frustração. Nas bancadas há já quem ressone. O mesmo acontece aos repórteres que fazem o relato pela televisão (porque vamos supor que a transmissão é da RTP). Lateral... Central. Trinco... Outra vez o central... Outra vez o trinco... E, de repente, quando já há jogadores adversários a estenderem uma toalha no relvado para aproveitarem o sol – o inesperado passe longo do trinco para o avançado… GOLO!

Quiz question: qual é a única selecção do mundo que é o arquétipo acabado da nacionalidade que representa ?

Extravagante, e fria, como o carnaval de Veneza. Táctica, mecânica e eficaz, como uma legião romana. Polémica e escandalosa como uma Cicciolina ou como um Bórgia. Com o sentido de drama de uma opereta semi-improvisada numa qualquer noite estranha de Nápoles. Dotada do cinismo e da imprevisibilidade de uma Cosa Nostra de fato e gravata made in Sicily. E, no final de tudo, com o sorriso aberto e charmoso de um Giacomo Casanova.

Como acontece com qualquer coisa deliciosamente agridoce, só é possível amá-la ou detestá-la. Tudo somado, a Squadra Azurra tem muita pinta. E creio que hoje sai de Berlim com a taça na mão. Vou estar a torcer por isso.